Um homem cuja vida foi marcada pela racionalidade e convicções extremas, mas ao mesmo tempo pela paixão pela vida, arte e ofício. Impossível não pensar nas obras de Oscar Niemeyer em Brasília sem juntar esses três elementos acima.
Quando cheguei na cidade, chovia tanto que ficar no hotel acabou sendo a melhor opção. Coincidentemente, passava na TV um documentário que nunca tinha visto antes sobre o arquiteto e a construção de Brasília. Aquele momento de espera acabou servindo de introdução para o que veríamos nos próximos dias. Foi a chuva também que me deu a idéia de fazer esse post em preto em branco: até sob tempo ruim, suas idéias e formas ficam incríveis.
Como arquiteta, sempre achei Niemeyer um artista genial. Ele, juntamente com Lúcio Costa, tiveram em suas mãos o sonho de praticamente qualquer pessoa do mundo: construir uma cidade ideal.
Na década de 50, o modernismo era o pensamento da vez. Frases e expressões famosas como “Menos é mais”, “forma e função”, permeavam a mente dos artistas da época. Se fosse para construir algo novo e inovador, como uma nova capital para o Brasil (até então no meio do nada, bem no centro do país), que fosse feito seguindo as premissas modernistas: e assim foi.
Lucio Costa, o urbanista, desenhou o traçado e organizou a cidade em setores (para morar, trabalhar e se divertir). Para Oscar Niemeyer coube projetar os edifícios da nova capital. O resultado, mais de 50 anos depois de sua inauguração (em 21 de Abril de 1960), continua sendo uma cidade única, sem precedentes em nenhum outro lugar do mundo.
“Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito.”
Se para Lúcio, a funcionalidade da cidade era o principal foco de seu trabalho, para Oscar Niemeyer foi a forma. E que formas! Em suas próprias palavras a idéia era que “o sujeito pare e se espante”. Especialmente no caso de uma capital, essa idéia de espanto e grandeza fazia ainda mais sentido. Aquela não poderia ser uma cidade qualquer.
“Para atingir o nível de obra de arte, ela [a arquitetura] tem de primeiro ser diferente e depois ser uma coisa que cria espanto, cria beleza. A arquitetura que eu faço é a que não aceita regras. Eu procuro fazer lógica funcional e tudo, mas criando, partindo de um desenho, uma idéia.”
O concreto armado, principal e maior novidade construtiva da época, foi o elemento que tornou as idéias de Oscar viáveis. Ângulos, curvas, formas antes inimagináveis agora eram possíveis. Um calculista visionário também ajudou, e foi com a técnica e matemática do engenheiro Joaquim Cardozo (um dos mais importantes e pouco conhecidos personagens da história de Brasília) que os prédios de Niemeyer saíram do papel e conseguiram ficar de pé com a mesma esbelteza de seus desenhos.
O Congresso Nacional, com suas cúpulas que parecem pousadas sobre uma grande mesa; o Palácio da Alvorada e suas colunas que parecem mais esculturas e até a Catedral de Brasília, que consegue emocionar qualquer um, incluindo um ateu, como era Niemeyer, são alguns exemplos de seus projetos.
“Quando alguém vai à Brasília, eu pergunto se viu o Congresso Nacional, e pergunto, depois, se gostou; se achou que o projeto era bom. Certo de que poderia ter gostado ou não, mas que nunca poderia dizer que tinha visto antes coisa parecida.”
Tudo isso sem contar outras obras importantíssimas, como o Palácio do Planalto e Itamaraty, Praça dos Três Poderes, Memorial JK, Museu Nacional, o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves e a Torre da Televisão Digital, todas obras de Oscar Niemeyer em Brasília, algumas finalizadas anos depois de sua inauguração em 1960.
Não via a arquitetura como fim, mas como meio de mudar o mundo. Comunista de carteirinha viu a construção de Brasília como um marco de uma mudança não só visual, mas política. O eixo monumental, com suas avenidas largas e sem árvores, com uma visão desobstruída para o Congresso Nacional e a Praça dos Três Poderes, cercada pelas principais esferas do poder, foram sua forma de incluir o povo no espaço da capital.
Ao entrar nos seus prédios, as formas externas icônicas dividem o espaço com a arte, pois sempre procurou em conjunto com outros artistas adicionar elementos representativos, como painéis, esculturas, telas, jardins, etc. No palácio do Itamaraty, por exemplo, ao lado de sua escada em espiral, uma das mais lindas do mundo, um painel de Athos Bulcão e os jardins de Burle Marx ao fundo, dão vida e cor ao espaço. Tudo isso, patrimônio nosso.
Pelo post há algumas celebres frases de Oscar Niemeyer. Ainda que dê para criticar e ver defeitos nos seus projetos, não dá para tirar a genialidade do seus desenhos e também de suas palavras.
Se Brasília cresceu e mudou, muito mais do que seu criador Lucio Costa imaginava, o que ficou do projeto original, como os prédios de Niemeyer, mostram o que aquela cidade tinha de ideal. Sem amor e paixão do seus idealizadores, a cidade não existiria; sem arte seria sem graça e sem arquitetura não seria o que é hoje.
Entender um pouco da história da cidade pelos olhos desse artista é compreender melhor a história do próprio Brasil. Valorizar e preservar o que é nosso, o que é único e o que é bom é um dos passos essenciais para mudar o que a gente não gosta, não concorda, não aceita para nosso país. Patrimônio nacional, essas são as obras de Oscar Niemeyer em Brasília.
Vambora ir para lá e se espantar também?
*** VEJA TAMBÉM:
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Se antes eu não tinha vontade de conhecer Brasília, depois de ver essas fotos mudei de conceito. Niemeyer era realmente um gênio-artista, né? Todo esse trabalho, principalmente lá na Praça dos Três Poderes (www.locamob.com.br/praca-dos-tres-poderes-1/details)… E ainda, depois desses protestos que estão tendo agora, a vontade de conhecer Brasília ficou ainda maiior, haha.
Adorei o post!
Sabrina que bom que vc gostou do post e das fotos! 🙂
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Espero que entenda! 🙂
Abs!
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